martes, marzo 19

A Defesa do Poeta

« Senhores jurados sou um poeta 
um multipétalo uivo um defeito 
e ando com uma camisa de vento 
ao contrário do esqueleto 

Sou um vestíbulo do impossível um lápis 
de armazenado espanto e por fim 
com a paciência dos versos 
espero viver dentro de mim 

Sou em código o azul de todos 
(curtido couro de cicatrizes) 
uma avaria cantante 
na maquineta dos felizes 

Senhores banqueiros sois a cidade 
o vosso enfarte serei 
não há cidade sem o parque 
do sono que vos roubei 

Senhores professores que puseste 
a prémio minha rara edição 
de raptar-me em crianças que salvo 
do incêndio da vossa lição 

Senhores tiranos que do baralho 
de em pó volverdes sois os reis 
sou um poeta jogo-me aos dados 
ganho as paisagens que não vereis 

Senhores heróis até aos dentes 
puro exercício de ninguém 
minha cobardia é esperar-vos 
umas estrofes mais além 

Senhores três quatro cinco e sete 
que medo vos pôs na ordem ? 
que pavor fechou o leque 
da vossa diferença enquanto homem ? 

Senhores juízes que não molhais 
a pena na tinta da natureza 
não apedrejeis meu pássaro 
sem que ele cante minha defesa 

Sou uma impudência a mesa posta 
de um verso onde o possa escrever 
ó subalimentados do sonho! 
a poesia é para comer ».


Natália Correia y Angel Boligán